Mistérios de Elêusis

A vida, a morte e a vida novamente

Os mitos e histórias são ferramentas poderosas no resgate da Sacralidade Feminina. Um mito em especial, Deméter e Perséfone, nos remete a antigas memórias e a sensações do mistério interior que rege as marés, as estações e todas as profundas iniciações.
A saga dessas Duas Deusas da vida e da morte foi ritualizada durante 1500 na Grécia com os Mistérios de Elêusis. Deméter é a Grande Mãe dos grãos, cujo reino é dos cereais, da superfície da Terra. Ela perde sua filha Donzela, Core, que empreende uma jornada as profundezas do mundo subterrâneo e torna-se Perséfone, a Rainha do Inferno. A jornada seguida por Core-Perséfone é também a trilha percorrida por cada alma que busca a própria renovação, crescimento e individuação. Há muito a ser dito, vivido e compreendido por essa história. Uma vida de mergulhos e retornos é necessária para abarcar toda a Verdade dessa iniciação mitológica. Deixo a linguagem poética do inconsciente - reino de Perséfone - como migalhas que marcam os caminhos de descer, subir e renovar-se.

CANTO DE PERSÉFONE

Ai se eu soubesse mãezinha

Que era essa a minha sina
Eu deitava uma última vez
No teu colo para chorar

Mãezinha se eu soubesse
Desse inverno tão frio
Que congela minha alma
E me deixa no vazio...

Eu juro que choraria,
Por tantos e tantos dias
Choraria por todas as noites
Que ainda iria conhecer

Minha mãe, me perdoe!
Não sabia desse intenso poder
Desconhecia esse amor vigoroso
Que me chama para o fundo do mundo
Ele não me deixa outra escolha
E eu tenho que mergulhar

Meu corpo é terra que morre
Testemunho do sacrifício sombrio
Que só compreendem os pássaros negros
O vento que geme, as folhas que caem e

As flores que dormem

Eu me entreguei, Mãe, sem resistência
A um espírito cruel, frio e vadio
Que devora meu coração todas as noites
E possui voraz esse corpo inteiro que
A Terra um dia há de comer

(Ela comerá todos nós)

Pois, quando me comer a Terra
Chore, mãe, por toda a violência
Da despedida que não tive
Pela criança que morreu
Chore até pela dor que não sinto
Das lágrimas que o inverno congelou.

Hoje sou húmus fértil e asqueroso
Deito com os restos dos homens
Com os ossos dos antigos e
Com a carcaça dos animais
Que me servem de abrigo

Porém, mãe amada, não se engane
No vazio do escuro do mundo
Dorme silenciosa a semente
Que tuas lágrimas devem regar.

Bebo teu pranto quieta.

Com a força das águas e
Um desejo de Sol
Hei de um dia romper a Terra.
E, com rosas e espinhos, Sou Eu
Quem floresce na Primavera!

Um comentário:

Wagner "Jaguar" disse...

Aloha!
Todo fez que leio algo a respeito desse belo mito, me lembro de Perséfone comendo roma~no Jardim de Hades.
Belíssimo poema.
Munay,
Wagner