Poemas de Marina Ramos


Marina Ramos é poeta e estréa seu espaço aqui na rede Yinsights.



Nasci no Espírito Santo. Morei lá por 7 anos, entre sol, praia e árvores de fícus. Aos 8 anos, fui morar em Porto Alegre, e o frio, o chimarrão quentinho e o Parque Farroupilha começaram a me inspirar a escrever. Talvez para organizar toda essa mudança, fui criando versinhos de afeto para os meus familiares, falando de saudade, com desenhos de flores e corações.

Aos 11 anos, me mudei para Brasília, e na capital a escrita virou uma coisa de adolescente, um desabafo de revolta. Meus olhos cresceram, e comecei a ver mais, a sofrer mais, e me desgostar com o que via. Momento importante esse, não deixa a gente se acostumar com o que não deve.

Hoje, minha energia é outra. Já me desgostei, não me acostumei, mas tento transformar. Quando sinto que tem algo para transbordar, sento com papel e lápis e deixo fluir. E assim transformo o meu dia, os meus sentimentos, as minhas impressões. Fico feliz por ver algo belo feito por mim.

Moro em São Paulo há 9 meses. Vim porque meu marido é daqui. Vim por amor a ele e a mim. Vim para mudar, e para dar vazão a essa grande mudança, a essa enorme bagunça, comecei a escrever mais. Criei um blog, que está novinho, mas, como minha vinda para cá é recente, tem tido bastante dedicação minha. Sei que ele vai crescer, como eu aqui também vou.

Escrevo sobre o mundo feminino porque adoro sua delicadeza, a sutileza dos ciclos da mulher. Também escrevo muito sobre natureza porque amo estar junto dela, nessas diferentes cidades em que morei a natureza se apresentou para mim em suas diferentes formas, e eu amei todas elas. Do mar do Espírito Santo, ao frio da serra do sul, à seca do meu amado cerrado, com suas cachoeiras, à Ilha Bela tão bela de São Paulo, isso tudo fica gravado em mim... E sobre o amor, porque é o maior mergulho, o mar que te faz precisar de tubos e mais tubos de oxigênio, mas te mostra as visões mais belas de si mesmo e do outro.

Meus vôos pela escrita não têm pretensões, diria até que são um pouco ingênuos. Mas a ingenuidade é um estado muito leve. E leveza é o que experimenta qualquer animal que consegue voar. Voemos!



Fofoqueiro!

Meu cabelo conta os meus segredos para todo mundo
Ele conta para as pessoas que eu não consigo me comportar
Que eu não consigo me conter
Que eu explodo de emoção
Meu cabelo fofoqueiro conta para as pessoas sobre o meu caos
Ele avisa dos meus humores, dos meus anseios, dos meus amores
Meu cabelo ladrão se enrosca no que deseja
Pega para si o que almeja sem a menor educação
Meu cabelo indiscreto avisa como foi a noite
Que eu rolo para os lados nos sonhos movimentados
Ou rolo de paixão
Meu cabelo é copa de árvore frondosa
De raiz forte
Flores, frutos, folhas
E tudo de espaçoso, vivo e cheiroso
Que uma árvore pode ter

Tudo
Fiquei muito tempo esperando aquele sinal
Achava que um dia uma luz ia acender
Achava que se derramaria em mim a água sagrada
E tudo mudaria
E a cada banho de cachoeira
Eu parava e reparava
Para ver se tudo estava igual
Ou se finalmente aquilo tinha acontecido
Um dia olhei para o espelho
E vi asas
Pisquei
E nada tinha ali
Entendi que nada aconteceria
Mas TUDO estava acontecendo
Há anos
Voei por vários mundos
Dentro de mim, águas sagradas e abençoadas existem
Fogueiras foram acesas
E tivemos danças ao redor
Rituais de passagem
Lutas por territórios
Várias vezes esse mundo interno passou mal
E o mal passou
De lagarta a borboleta
Se as fadas existem
Eu sou uma delas
E isso é tudo de mais precioso

Que poderia me acontecer.


Cintura (as curvas do meu corpo)
Eu fui morar fora
Quando as coisas estavam todas no lugar
Fui embora
Desejei vagar

Eu fui morar fora
Longe do planalto
Longe das linhas
Da hora
Do relógio central

Eu fui morar longe
Do certo
Do reto
...

Eu fui morar longe de mim reta
Pra descobrir nas minhas curvas
Nas águas turvas
Que eu não sou seta
Eu sou mulher


Theodoro
Ele me olha com esses olhos cor de mel
e sem constrangimento me segue
por todo o canto
Me arranca a roupa, o véu
Me leva ao céu
Com a sua devoção
Segura a minha perna quando eu passo
Observa atento tudo o que eu faço
E sabe seduzir
Pela insistência de conduzir
esse amor
Ele mia na minha orelha
Fareja as minhas roupas
Da valor a cada centelha
De atenção
E se eu não olho para ele
Se vinga
Destrói vasos de plantas
Me tira a ginga
Me deixa à mingua
Em plena oração
Pela volta do seu olhar
Pelo retorno do seu miar
Pela plenitude do meu coração

www.salaspera.blogspot.com

marina.ramos.mr@gmail.com


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