Paixão e amor

Falamos muito de amor, paixão e sedução – um território da Deusa Afrodite. Mas será que estamos realmente acessando a divindade em toda a sua complexidade?
Se concordarmos que cada ser humano carrega as divindades dentro de si e que, como cada pessoa é única e tem sua missão, será que nossa “Afrodite Interior” também não tem a necessidade de amadurecimento? Não teríamos uma jornada a ser trilhada e reconhecida?
Para entendermos melhor esse questionamento é necessário que passemos pela mitologia dessa que é uma das Deusas mais cultuadas e reverenciadas até hoje.
Afrodite tem dois principais mitos de nascimento. Em um deles encontramos Afrodite Urânia, aliás, a mais difundida das versões. Ela nasce do sêmen de Urano, o deus dos Céus e pai de Saturno, o tempo. Saturno castra seu pai e das “sementes” de Urano, caídas nas águas do Mar, emerge Afrodite (afros em grego significa “espuma do mar”). Nessa versão, Afrodite é privada de uma mãe (estrutura feminina nutridora).
Essa Afrodite Urânia tem como característica principal o fato de ser etérea e espiritual, afinal é filha do Céu. Encontramos essa Afrodite no amor romântico e idealizado – ou seja, na paixão. O céu é uma analogia para nossa mente e idéias.
Manifestamos essa energia quando nos interessamos por alguém, vemos o lado mais belo e brilhante, fazemos planos para o futuro, temos a sensação de que a vida está mais clara – achamos que encontramos o que buscávamos no “exterior”.
Nossa mente e coração trabalham juntos, mas a imaginação “fala” mais alta. Isso tudo é típico da paixão – o fogo desperta e tudo fica mais brilhante e claro.
Mas será que esse fogo se mantém eterno sem que precisemos alimentá-lo? Não teremos que trabalhar para conseguir mais combustível para esse calor?
Na minha opinião, a paixão não se mantém sozinha por muito tempo. Como o seu pai, o “céu”, essa Afrodite etérea muda com facilidade e rapidez. Ela tem o impulso, mas necessita ser nutrida para se manter viva. Nesse ponto de nutrição do fogo inicial é que escolheremos abraçar o processo de amadurecimento da divindade e de como manifestamos o amor.

Mas como? - Nessa hora entra em cena uma outra Afrodite e para falar dela vamos recorrer novamente a um mito de criação. Uma outra versão (mais recente) para o nascimento de Afrodite é que ela seria filha de Zeus e de Dione. Ela tem características mais terrenas, além de possuir uma linhagem materna. Ela mais do que Deusa da Paixão é uma Deusa da Vida e da Fertilidade. Ela é coração! O tambor que impulsiona e mantém a vida!
O fato de Afrodite ter uma mãe reconhecida (energia feminina – Terra) dá a ela uma capacidade não somente de gerar a paixão, mas também o resultado desse impulso inicial (energia masculina – Céu) em algo pleno e completo – o AMOR.
Resumindo, para acessarmos o tão almejado amor manifestado em toda a sua complexidade temos que nutrir nosso lado feminino/terra (lembrando que mulheres e homens possuem essa energia/faceta).
Abaixo sugestões de uma medicina ou “antídotos” para algumas situações no amadurecimento da Afrodite Interior:
- A aceitação quando nos depararmos com os julgamentos.
- O companheirismo quando surgir o medo da sombra do parceiro ou de nós mesmos.
- O respeito e individualidade quando o impulso de controlar o outro e o egocentrismo aparecerem.
- A confiança e a paciência no processo natural de evolução do relacionamento, o que envolve quebra de expectativas e frustrações, por exemplo.
Treino. Isso é o mais importante. Esses pontos citados fazem parte da Afrodite bem nutrida, pois além de Deusa do Amor e da Paixão, Ela é uma Deusa da Vida. Sua capacidade de amar incondicionalmente e de não perder o auto-respeito são infindáveis.
Esse amor incondicional pode ser exercitado em um relacionamento com alguém, mas o melhor resultado dessa experiência é interior.
O se aceitar, se respeitar, ser paciente consigo mesmo. Isso gera autopreservação – também chamada de individualidade saudável.
Ou seja, um indivíduo pleno é capaz de estar ao lado de outra pessoa com mais maturidade. Plenitude não é um mar calmo, mas sim se manter calmo num mar revolto.
Afrodite, como a maioria dos deuses e deusas, passa por muitas aventuras, se envolve em confusões, é testada e testa muita gente, abençoa e é abençoada. Se concordarmos que as divindades são reflexos de nós mesmos e vice-versa, podemos afirmar que somos todos heróis e heroínas e como tais, temos todos um mito pessoal. Podemos ser mais específicos aqui: temos um mito amoroso pessoal. Nele trilhamos uma estrada de aprendizado rumo ao nosso próprio coração.
O Amor pode não ser uma meta, um ponto de chegada, mas com certeza pode ser nossa “estrada de tijolos amarelos”, afinal Afrodite também é conhecida como “A Dourada”.
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